Somos diferentes, homens e mulheres. Isso é fato. Mas será que existem também diferenças na percepção da dor? Muito é falado sobre essa questão. Doenças crônicas que cursam com dor como a disfunção temporomandibular têm maior prevalência no sexo feminino. Como dentista, observo as discrepâncias nas reações frente a agulhadas para anestesia. Mas, afinal, e os dados estatísticos? O que nos dizem as pesquisas científicas sobre isso?
Realmente, observa-se diferenças na intensidade da dor sentida entre os sexos. Em estudos com humanos isso é demonstrado, mas sempre existe o risco do efeito placebo nos estudos, ou seja, alteração na resposta devido ao sugestionamento. Para contornarmos esse problema, vamos aos estudos com animais onde não há esse viés. O que se observa em ratos é que as fêmeas em idade fértil sentem os estímulos dolorosos com maior intensidade. Suas respostas nos testes deixam isso claro. Mas, a que se deve essa diferença?
Um dos principais motivos é a presença do hormônio estrogênio. O estrogênio é um hormônio feminino secretado pelos ovários que nos dá as características sexuais como crescimento das mamas e, também se relaciona com a fertilidade. Durante o ciclo menstrual, há flutuações hormonais na mulher marcando 2 situações distintas. Um pico de estrogênio serve como sinal para a ovulação e, após isso, sua produção baixa dando lugar à predominância ao hormônio progesterona na segunda metade do ciclo até a menstruação, no caso de não haver uma gravidez. Esse hormônio é produzido ao longo da vida tendo um aumento considerável a partir da puberdade nas mulheres e diminuindo consideravelmente após a menopausa. Homens também produzem esse hormônio, mas em quantidade muito menor. Tendo isso em mente, é fácil para as mulheres perceberem a relação hormonal com a percepção de dor ao longo do mês. Pergunte a sua esposa se dói mais fazer depilação antes do período menstrual e receberá uma resposta afirmativa!
Voltanto aos estudos com ratos, eles mostram que, quando as ratas são submetidas a uma ovarectomia, que é a remoção dos ovários para simular a menopausa e cessar a produção estrogênica, seus níveis de dor se igualam aos machos. Mais ainda, se for administrado tal hormônio feminino aos ratos machos, eles passam a sentir mais dor, assim como as fêmeas férteis. Isso nos mostra de maneira definitiva essa questão. Sendo assim, os quadros de dores crônicas tendem a melhorar após a menopausa, fato também observável em consultório pelo relato das pacientes.
Claro que existem outros fatores envolvidos como o perfil psicológico e cultural diferente entre homens e mulheres na maneira de enfrentar a dor, assim como uma tendência maior de procurar ajuda profissional no caso feminino. Mas, certamente o fator hormonal tem um grande peso nessa equação. Sendo assim, o enfoque da dor, desde a pesquisa até os tratamentos clínicos deve ser diferenciado, levando o sexo do paciente em consideração.