Chega (Setembro amarelo)

Vivemos com o instinto da sobrevivência bem claro em nossa mente. Tomamos cuidado ao atravessar uma rua. Temos atenção especial ao dirigir e mais ainda quando há chuva ou está escuro. Vamos ao médico quando nos sentimos mal. Nos aquecemos quando sentimos frio. Tudo isso porque temos “gravado” em nós esse maravilhoso instinto da sobrevivência: Queremos viver.

Na contramão disso tudo estão aquelas pessoas que por algum ou alguns motivos desistiram. Aqueles que muitas vezes gozam de boa saúde física, mas a mente, os pensamentos, as desilusões, as perturbações os fizeram dizer para a dádiva da vida: Chega. Segundo a OMS no mundo todo são mais de 700 mil pessoas por ano que tiram a própria vida. São homens, mulheres, jovens, adultos e idosos. A imprensa só divulga quando é alguém famoso. Há o receio de que a divulgação dessas notícias possam levar outros a cometer suicídio. Famílias que perderam alguém para o suicídio costumam comentar que nos dias anteriores à morte ou mesmo no dia, a pessoa parecia calma e até demonstrava certa felicidade. Ria, abraçava, contava coisas boas etc. Os especialistas chamam esse sentimento de – falsa calmaria. Faz lembrar aquela “melhoradinha da morte” que às vezes acontece com pessoas que estão muito doentes e de repente amanhecem melhor e minutos ou horas depois morrem. A falsa calmaria segundo especialistas acontece porque a pessoa já decidiu tirar a vida. Em sua mente seus problemas já estão com os dias contados. Ela passa então a viver com certa medida de paz e contentamento, mas em sua mente já planejou sua morte. Existem também os momentos em que a pessoa está mais vulnerável. Os especialistas dizem que o suicídio é transitório.

Algo que também faz sofrer as famílias de suicidas é o sentimento de culpa ou remorso. Costumam se perguntar:”Como não percebemos?” ou “Por que não fizemos nada?” e ainda “Por que ele ou ela não pediu ajuda?”. Tudo isso aumenta o sofrimento das famílias enlutadas por esse perigo real que nos assombra. Algo que também pode atormentar as famílias são comentários de alguns religiosos que não demonstram nenhuma sensibilidade, pois dizem coisas do tipo: “Quem tira a própria vida é desaprovado por Deus”. Esse comentário não faz o menor sentido, afinal de contas muitos desses religiosos fazem trabalhos em presídios e dizem que até os criminosos têm direito ao perdão de Deus. Ora, se o Criador perdoa quem tirou a vida de outros por que não perdoaria quem em momentos de desespero tirou a sua vida? Afinal de contas, quem comete suicídio porque está feliz?

O que podemos fazer para ajudar? Pergunta difícil de responder, mas com certeza ficarmos mais atentos aos sinais que os especialistas apontam. Nunca devemos ignorar comentários suicidas. Não devemos pensar que a pessoa está blefando ou simplesmente querendo chamar atenção. Devemos incentivar familiares e amigos a procurar ajuda profissional quando há evidência de quadros de depressão ou de outras doenças de origem psicológica. Pode ser necessário não apenas incentivar a pessoa a procurar por um psiquiatra ou psicólogo, mas acompanhar a pessoa até a consulta. São mais de 700 mil pessoas por ano, isso é mais do que toda a população de Florianópolis. Antes que alguém amado decida pelo: Chega – vamos ser mais solidários. Mais olho no olho. Mais próximos e mais preocupados e atuantes. São nossos semelhantes chegando ao final de uma estrada que pode ser linda e bem vivida ou um ato de adeus a vida.

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