País figura entre os maiores poluidores do mundo e precisa assumir protagonismo nas negociações internacionais para enfrentar uma crise que afeta o meio ambiente, a saúde e a economia.
Por Redação
A poluição plástica é uma crise global que ultrapassa fronteiras, assim como a crise climática. Os resíduos plásticos percorrem rios, oceanos e até mesmo a cadeia alimentar, agravando também a perda de biodiversidade. Com mais de 170 trilhões de partículas plásticas flutuando nos mares e impactos que podem durar séculos, a urgência de um acordo internacional é evidente.
Crises interligadas: plástico, clima e biodiversidade
A indústria de plásticos está diretamente ligada aos combustíveis fósseis, responsáveis por até 80% das emissões globais. Atualmente, ela representa 12% da demanda mundial de petróleo e 8,5% da de gás fóssil. A produção de plástico virgem está projetada para triplicar até 2080, o que pode inviabilizar o Acordo de Paris, mesmo que outros setores cumpram suas metas de descarbonização.
Além disso, os plásticos já afetam 92% dos recifes de corais rasos e estão presentes até na Antártida, levados pelas chuvas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta: “Precisamos urgentemente de uma ação coletiva para revitalizar os oceanos. Trabalhar em conjunto com a natureza, e não contra ela.”
Imagem Reuters
Saúde humana em risco
Microplásticos foram encontrados no sangue, cérebro, pulmões, placenta e cordão umbilical. Mais de 16 mil substâncias químicas estão presentes nos plásticos, sendo que 4.200 são perigosas à saúde. Os efeitos incluem alterações hormonais, câncer, doenças cardíacas e infertilidade.
Essas substâncias tóxicas se espalham pelo ambiente e entram em contato com os seres vivos ao longo de todo o ciclo de vida do plástico, inclusive por meio de materiais reciclados.
Economia e reciclagem: o custo invisível
A indústria plástica enfrenta excesso de oferta e queda na lucratividade. Estima-se que 24% da capacidade petroquímica global pode fechar até 2028. No entanto, os custos ambientais e sociais não são pagos pelas empresas, são socializados, afetando especialmente os mais pobres e setores como turismo, pesca e navegação.
No Brasil, mais de 10 milhões de toneladas de plástico entram no mercado anualmente, além de 12 mil toneladas importadas, com crescimento de 7% ao ano. A reciclagem, por sua vez, é limitada: apenas 9% do plástico é reciclado globalmente, e no Brasil, esse número cai para 1,3%.
A chamada “reciclagem avançada”, promovida pela indústria fóssil, consome muita energia e pode gerar mais emissões do que a produção convencional. A solução real está na redução da produção e do consumo de plástico virgem.
Imagem The Guardian
O papel do Brasil nas negociações
O Brasil tem oscilado entre apoiar um tratado ambicioso e se alinhar aos interesses de petroestados como a Arábia Saudita. Durante a INC-4, o país suavizou sua posição sobre medidas de produção e transparência. Na INC-5.1, mais de 200 lobistas da indústria estiveram presentes, e o Brasil não apresentou uma lista de plásticos a serem restringidos.
Após pressão pública, o governo assinou uma declaração conjunta com 94 países pedindo obrigações vinculantes contra os plásticos mais nocivos. No entanto, não aderiu a outras propostas importantes, como a declaração “Defendendo a Ambição” e o “Apelo de Nice”.
Como o 8º maior poluidor plástico do mundo, o Brasil tem a responsabilidade de assumir uma posição clara e ambiciosa. Um tratado eficaz exige:
- Redução da produção e consumo de plástico virgem
- Proibição da exportação global de resíduos plásticos
- Regras de design para limitar o uso de plásticos
- Eliminação de químicos e polímeros perigosos
- Mecanismo financeiro para apoiar países em desenvolvimento
Um chamado à ação
O Tratado Global Contra a Poluição Plástica pode ser o maior acordo ambiental desde o Acordo de Paris. Para que isso aconteça, é preciso coragem política, compromisso com a ciência e respeito à vida, humana e não humana. O Brasil tem a chance de liderar esse movimento. O mundo está observando.
Com informações de Climainfo
Tratado Global Contra Poluição Plástica – ClimaInfo
