Nesta semana, o país bateu a marca de mil óbitos por dengue desde o início do ano. Mais
precisamente, eram 1.020 mortes confirmadas ao final da tarde desta quarta-feira (3/4), de
acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses. A ferramenta do Ministério da
Saúde (MS) também indica que já foram registrados 1.531 óbitos em investigação e
2.671.332 casos prováveis da doença. Em pouco mais de três meses, o Brasil está se
aproximando do recorde de mortes por dengue em um ano, alcançado em 2023. No ano
passado inteiro, foram 1.094 óbitos – e 1.053 em 2022, segundo ano mais letal. No que se
refere aos casos da doença, o Brasil já registrou neste primeiro trimestre 61% dos 4,2
milhões de casos que foram previstos para o ano inteiro pela secretária de Vigilância em
Saúde, Ethel Maciel, em fevereiro.
Há desaceleração, mas é difícil comemorar
Apesar dos números duros, a avaliação do Ministério da Saúde é que o país já vive um
declínio do surto da dengue. A informação foi apresentada em entrevista coletiva também
por Ethel Maciel. A secretária informou que em 7 estados e no Distrito Federal a curva de
novas infecções já é decrescente, em outros doze ela está estável e nos sete restantes –
todos no Nordeste – ainda se identifica um crescimento. Porém, ainda é cedo para
comemorar a desaceleração da epidemia, diz a infectologista Juliana Salles, do Sindicato
dos Médicos de São Paulo. Isso porque “muitos municípios com alta taxa de habitantes,
como aqui em São Paulo, ainda têm um número elevado de casos e descontrole dos focos”,
ela conta. Para a médica, “representam o controle dos focos e o uso da vacina […] nos
locais onde está sendo realizada a vacinação de forma adequada”. “Mas em muitos outros
locais, ainda vai começar a estratégia de vacinação”, lamenta Salles.
Dengue mata? É mais complexo, apontam especialistas
“A dengue não mata, o que mata na dengue é a desassistência e a desatenção ao potencial
agravamento que os pacientes podem apresentar, principalmente quando a febre
desaparece”. O lembrete é de um grupo de pesquisadores da Fiocruz e da UFRJ, em artigo
publicado no site do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE/Fiocruz). No escrito,
nomeado Contando os mortos pela dengue: até quando?, eles argumentam que as mortes
por dengue são evitáveis, salvo raras exceções. Com a correção de três equívocos, é
possível reduzir amplamente o número de óbitos, eles dizem. O primeiro é a subestimação
do potencial de gravidade da doença. O segundo consiste no não-atendimento dos que
procuram as unidades de saúde com sintomas. Por fim, há a não-identificação dos sinais
clínicos de alarme ou gravidade em pacientes atendidos. O planejamento prévio e o
combate à desorganização da rede assistencial, eles apontam, são ferramentas essenciais
para solucionar os três.