Por: Mayara Leite – Redatora Seo On
Meio Ambiente – Uma pesquisa conduzida pela Universidade de São Paulo (USP) trouxe novas perspectivas para a restauração florestal no Brasil. O estudo, publicado na revista Ambio, mostra que 59% das espécies nativas do Vale do Paraíba do Sul apresentam potencial de uso em áreas como saúde, cosméticos e alimentação, reforçando a bioeconomia como alternativa viável para financiar projetos de recuperação da Mata Atlântica.
O levantamento analisou 329 espécies identificadas em parcelas de floresta na região que abrange São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Destas, 283 eram nativas, e 167 apresentaram algum tipo de uso econômico. A maior parte tem aplicação medicinal (58%), seguida pelo setor cosmético (12%) e alimentício (5%). Espécies conhecidas, como a araucária (Araucaria angustifolia) e a juçara (Euterpe edulis), foram destacadas entre as que possuem maior potencial de mercado.
Bioeconomia como alternativa para custear a restauração
Um dos principais desafios da restauração florestal é o alto custo, que muitas vezes desestimula produtores rurais e gestores ambientais. A pesquisa sugere que a exploração sustentável de produtos não madeireiros — como frutos, sementes e folhas — pode gerar renda de forma imediata, sem a necessidade de derrubar árvores.
“O manejo de produtos não madeireiros é não destrutivo e pode trazer ganhos em médio prazo, mantendo a floresta de pé”, explica o pesquisador Pedro Medrado Krainovic, primeiro autor do estudo.
Além disso, a análise de patentes mostrou que 78 espécies já têm registros de propriedade intelectual em 61 países, mas apenas 8% delas no Brasil. Isso demonstra tanto o interesse internacional quanto o espaço para que o país avance em pesquisa e desenvolvimento.
Geração de empregos e riscos de exploração
Os pesquisadores também destacam que projetos de reflorestamento com espécies nativas são importantes geradores de emprego, especialmente para mão de obra não qualificada. Estimativas anteriores apontam que o Brasil poderia criar até 2,5 milhões de postos de trabalho se cumprir a meta do Acordo de Paris de restaurar 12 milhões de hectares até 2030.
Por outro lado, o estudo alerta para os riscos de exploração descontrolada, citando o exemplo do pau-rosa (Aniba rosaeodora), espécie amazônica explorada intensamente pela indústria de perfumes no século XX e hoje ameaçada de extinção.
Caminho para projetos sustentáveis
A recomendação é que o manejo seja acompanhado de planos regulatórios, certificações e políticas de incentivo, como compras públicas, para garantir que a exploração de ativos florestais realmente contribua para a restauração e não para novos ciclos de desmatamento.
“Espécies raras e de alto valor econômico podem ser introduzidas em projetos de plantio, enquanto espécies abundantes e de fácil manejo devem ser melhor estudadas para ampliar seu uso econômico”, conclui Krainovic.
Fonte: Portal CNN