Mara

O despertador dá o sinal, são 5:45h e o sol ainda não apareceu. O corpo apresenta o cansaço dos dias anteriores; os olhos custam a se abrir. Ela senta-se, mas ainda têm breves sonhos; seu corpo balança sentada na cama. Enfim, Mara levanta-se; o dia será cansativo mais uma vez.

Gabriel tem apenas 4 anos e dorme profundamente. Mara, sonolenta, observa o filho e sorri; sente pena de acordar seu anjo. Não há outra opção, ela o chama uma, duas, três vezes. “Acorde meu amor, acorde. A mamãe vai preparar o teu Nescau; também tem banana e biscoito. Tu precisas ir para a escola e a mamãe tem que ir trabalhar”. Gabriel senta-se na cama, tem as mesmas reações que sua mãe minutos antes; sonha sentado e balança de sono na cama. Por fim, tira o pijama e coloca o uniforme do colégio.

Mara já havia deixado a mesa preparada para Gabriel. Ela toma um banho e se veste para ir trabalhar. Penteia seus lindos e lisos cabelos pretos; perfuma-se, passa batom, se dá todo o direito de sentir-se linda e feliz, pelo menos por fora. Já são 6:15h e Gabriel toma seu Nescau e brinca com a banana e os biscoitos. Mara chama sua atenção; não podem se atrasar. Ela come rapidamente. Acompanha o filho até o banheiro e juntos como se estivessem brincando escovam os dentes.O relógio é implacável, talvez o tempo, ou mais provavelmente as tarefas que acumulamos. O relógio já marca 6:30h. Ela pega sua bolsa, enquanto Gabriel a sua mochila, seu lanche e saem.

Na rua Mara acelera os passos, mas tem pena de Gabriel, então o carrega no colo. Ela nem percebe que o sol já mostra seus primeiros brilhos. Quando chegam à creche são 6:50h, seu ônibus passa pontualmente às 7 horas. Ela dá um abraço e um beijo em Gabriel, diz que o ama. Ele diz o mesmo à mãe. A professora já está ali para receber Gabriel, mas ele não larga a mãe, tampouco Mara consegue afastá-lo. Ele mantém os braços em volta da mãe com toda a força de um garotinho de 4 anos. Suas pequenas mãos percorrem os cabelos e o pescoço da mãe. A vontade de Mara é não soltar o filho. Mas a necessidade e a  responsabilidade falam mais alto. Eles se despedem. Mara deve voltar a ver o filho só lá pelas 23h.

Ela vê o ônibus se aproximar e corre. O motorista já a conhece e espera alguns instantes. Mara entra no ônibus, diz bom dia ao motorista e o agradece. Ele retribui tudo com um único sorriso amistoso como se soubesse de todo o esforço daquela jovem moça, trabalhadora e mãe. Ela senta-se já cansada sem se dar conta de que o sol já brilha.

Mara trabalha num escritório de contabilidade. É uma ótima funcionária. Seu chefe e vários colegas sabem da sua situação. Trabalha das 8h da manhã até às 18h; só uma pausa para o almoço. Depois do serviço Mara vai para a faculdade de contabilidade. Sua mãe, dona Joana, é quem pega Gabriel na creche às 18h. A avó trabalha como diarista e na volta do  trabalho pega o neto, o leva para casa, dá banho e jantam juntos.

Quando Mara salta do ônibus já passa das 23h e o sol já se foi. Gabriel já está dormindo. Mara o leva no colo, junto a sua bolsa e a mochila do filho. Chegam em casa às 23:30h. Ela coloca o filho na cama e o beija ternamente. Em seguida toma um banho, come qualquer coisa, liga a TV e dorme. Logo desperta e já é 1 hora da madrugada. Ela desliga a TV e volta ao quarto do filho; novamente o beija e pede em seus pensamentos que Deus o proteja. 

Mara entra em seu quarto e deita-se em sua cama. Ela tem apenas 21 anos de idade; linda de rosto e corpo. Mas é possível com um olhar mais atento perceber que seu corpo e rosto não têm o brilho da juventude, nem o brilho sol. Mara antes de dormir lembra-se de Roberto. Quando se conheceram ela tinha 15 anos e ele 18. Ele dizia que a amava, que juntos iriam construir suas vidas, que sempre estariam unidos. Quando Gabriel nasceu ela estava com 17 anos e Roberto com 20. Ele apenas registrou a criança e paga uma pequena pensão. Chega a ficar 3 meses sem ver o filho. “Por quê?” se pergunta Mara e dorme.

Dorme profundamente e sonha. Em seu sonho acorda com um beijo de bom dia de Roberto. Ele a ajuda a preparar Gabriel para a creche que é por meio período. Ela estuda pela manhã e durante à tarde fica com o filho. À noite Roberto chega do serviço, abraça-os e vão jantar. Conversam sobre o seu dia; tudo como sempre imaginava, tudo como sempre sonhava. Depois que colocam Gabriel em sua cama os dois vão se deitar. Trocam ideias, fazem planos, se beijam e se amam.

Mara acorda com o despertar do relógio às 5:45h. Preparar o filho para a creche. Correr para pegar o ônibus. Um dia inteiro de trabalho. Faculdade à noite. Rever o filho já dormindo depois de 15 horas. Pouco tempo para sonhar. Não percebe o sol  nascer e se pôr. Assim são os dias com os quais Mara não sonhava.

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