Crianças palestinas definham com o cerco imposto por Israel, que alastra rapidamente doenças. Fragilizados pela desnutrição, pequenos podem estar sendo condenados à morte pela destruição dos hospitais do enclave
Na tarde de terça (27/2), um representante da ONU afirmou que “um quarto da população de Gaza” – cerca de 600 mil pessoas – “está à beira da fome”. Ele revelou também que, na falta de ajuda humanitária, uma parte dos habitantes do enclave vem se alimentando de “folhas, feno para burros e restos de comida”. À noite, o Ministério da Saúde de Gaza confirmou a morte de 6 crianças por “desidratação e desnutrição”. A reportagem que se segue, do People’s Health Dispatch apresenta em mais detalhes o que têm vivido os palestinos, um povo agredido. A leitura é forte – e ressalta a urgência imediata de um cessar-fogo na Palestina. (G. A.)
Os indicadores nutricionais das crianças da Faixa de Gaza estão caindo em um ritmo sem precedentes desde o início dos ataques israelenses em 7 de outubro do ano passado. Sem um cessar-fogo, uma grande fome devastará o enclave a partir de maio, alertou o Programa Alimentar Mundial (PAM).
Em um novo relatório baseado em dados coletados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela UNICEF, o Cluster Global da Nutrição identificou que que 15% das crianças de até 2 anos na parte norte de Gaza passam por desnutrição aguda e 3% delas estão definhando – seus músculos se atrofiam e sua massa corporal decresce rapidamente, pela total falta de alimento.
Os números na parte sul, que inclui Rafah, cidade para onde foi deslocada a maior parte da população de Gaza, são algo menores, mas ainda representam uma situação muito pior que a de antes de 7 de outubro. O relatório indica que, em janeiro, 5% das crianças de até 2 anos em Rafah estavam passando por desnutrição aguda. Antes, menos de 1% das crianças de até 5 anos de toda a Faixa de Gaza viviam esse quadro.
O cenário geral de desnutrição está criando a tempestade perfeita para um surto de doenças transmissíveis, que pode elevar o número de crianças mortas por Israel a um patamar ainda mais devastador. A maioria das crianças só têm tido acesso a uma alimentação pouquíssimo variada, e seus corpos estão ficando mais vulneráveis a sintomas que poderiam ser tratáveis, como a diarreia. A falta de água potável, que afeta todos os lares de Gaza, diminui mais ainda a chance de tratar essas condições.
As crianças não são o único grupo afetado pela falta de comida. Pais, e mesmo mães grávidas, estão “pulando refeições” para alimentar seus filhos. Cerca de 95% das grávidas e lactantes de Gaza não estão comendo o suficiente. Quando comem, são alimentos de baixo valor nutricional, o que piora os efeitos da anemia e prejudica a saúde materna.
O PAM documentou muito dessa situação, mas seu trabalho de entrega de ajuda humanitária no norte de Gaza foi suspenso, já que as forças de ocupação não garantem condições de segurança para essas atividades. A ajuda que entra pelo sul de Gaza é apenas uma fração do que é necessário, e os efeitos da desnutrição estão se exacerbando por conta da destruição da infraestrutura de saúde.
Do People’s Health Dispatch | Tradução: Guilherme Arruda