Itamaraty denuncia uso político de tarifas por Washington; mais de 40 países apoiam posição brasileira em reunião do organismo
Em um movimento diplomático coordenado, o Brasil usou a principal reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), nesta quarta-feira (23), para criticar as tarifas impostas pelos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump. As informações são do jornalista Jamil Chade, em sua coluna no UOL.
O gesto, ainda que sem citar nominalmente Trump, foi interpretado como um recado direto a Washington e recebeu apoio de cerca de 40 países, incluindo China, União Europeia, Canadá, Rússia e Índia.
O Itamaraty alertou para o uso “arbitrário e caótico” de tarifas como ferramenta geopolítica, afirmando que elas representam uma ameaça à estabilidade do sistema multilateral de comércio.
O embaixador brasileiro Philip Fox-Drummond Gough afirmou que a prática de aplicar sobretaxas com motivações políticas — como fez Trump contra o Brasil, ao associá-las à situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) — representa um ataque direto aos princípios da OMC.
“O uso de tarifas como instrumento de ingerência em assuntos internos é extremamente perigoso”, disse Gough. “Estamos testemunhando um ataque sem precedentes ao Sistema de Comércio Multilateral.”

Tarifaço de Trump e a penalização dos países em desenvolvimento
Segundo ele, ações, como as de Trump, colocam em risco a previsibilidade do comércio global e penalizam, sobretudo, países em desenvolvimento.
A fala brasileira não configura a abertura formal de uma disputa comercial, mas foi vista como uma sinalização clara da disposição de responder diplomaticamente — e juridicamente, se necessário — às sobretaxas anunciadas por Trump, que incluem uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto.
Embora ainda existam negociações informais entre os dois países, o Brasil aguarda resposta oficial de Washington a uma carta enviada em maio, solicitando diálogo sobre possíveis exceções à tarifa.
Missão oficial
O governo brasileiro já cogita o não adiamento da imposição de tarifas por Trump, marcada para começar em agosto. Uma missão oficial a Washington está sendo considerada.
Nos bastidores, empresas americanas com interesse em produtos brasileiros têm sido incentivadas a pressionar o governo Trump, estratégia já usada com sucesso por outros parceiros comerciais, como União Europeia e México.
Por ora, retaliações tarifárias estão descartadas pelo Brasil, que avalia como alternativa medidas no campo da propriedade intelectual — como a suspensão de patentes e o aumento de tributos sobre produtos culturais dos EUA.
Apesar do tom crítico, o Brasil mantém uma postura aberta ao diálogo, mas sinaliza que não hesitará em recorrer aos instrumentos legais da OMC para defender seus interesses.