É verdade que os dados ainda são preliminares, mas o que foi divulgado com respeito ao Censo de 2022 mostra um cenário que merece reflexões e revisões estratégicas importantes para os setores de consumo e varejo.
A maior surpresa ficou com o crescimento anual da população de apenas 0,52% no período de 2010 a 2022, o menor da série histórica. Ao invés dos estimados 214 milhões de habitantes, somos 203 milhões. Outra surpresa foi o aumento do número de domicílios, que atingiu perto de 90,7 milhões, uma significativa evolução de 34%, muito acima do crescimento da população.
Outra surpresa em termos de crescimento foi a maior expansão das regiões conectadas ao agronegócio, que já era esperada, mas surpreendeu pelo percentual, assim como os processos migratórios internos entre regiões e tamanhos de cidades. Lembrando que ainda são dados iniciais, mas que os números definitivos não devem mostrar grandes mudanças.
Esses números vão ensejar o repensar de muitos aspectos nos projetos estratégicos do próprio país e com relevante impacto na geografia, tendências de consumo e no varejo, nas suas diversas categorias, canais, serviços, formatos de lojas e modelos de negócios.
Muita discussão ainda ocorrerá para explicar as surpresas que passam pela cautela exponenciada das famílias no número de filhos, a força cada vez maior do agronegócio e seu impacto na economia, a tendência de migração das grandes cidades para menores, a saída de brasileiros para o exterior e muitos aspectos mais ligados à demografia.
Mas no campo do consumo e do varejo as mudanças que já vinham sendo observadas podem agora ser explicadas e novas projeções devem ser feitas e consideradas. Uma das mais básicas é a que envolve ainda maior potencial para o setor de serviços, aquele que mais tem crescido e que poderá ser sobretaxado na proposta tributária em discussão.
O processo que se acelera de envelhecimento da população com perda do bônus demográfico – situação onde a população economicamente ativa de jovens é maior em relação aos idosos – além das óbvias e relevantes consequência nos aspectos previdenciários, gera mudanças importantes na geografia e potencial de consumo em muitas categorias de produtos e serviços e também nos canais de varejo e modelos de negócios, privilegiando alguns e reduzindo outros.
Além da mudança do potencial geográfico entre regiões, cidades e bairros e na própria estrutura do emprego com crescimento e expansão de novos modelos de vínculo de trabalho que envolva uma população mais idosa.
No varejo e no consumo algumas constatações são imediatas e básicas.
Cresce o potencial de categorias e serviços ligados à saúde e bem-estar e reduz tudo que se relaciona às crianças. Aumentam os dispêndios com serviços de forma geral pelo aumento da maturidade etária e comportamental da população. Formatos de lojas de vizinhança e proximidade se tornam mais importantes ainda. Os canais digitais e híbridos aumentam sua relevância por conta da conveniência que representam para populações mais maduras.
Da mesma forma modelos de negócios que permitam expansão mais acelerada como franquias, centrais de negócios, operadores independentes e licenciamento que viabilizam presença de marcas e produtos em novos potenciais de consumo têm um interesse renovado. Além de ampla e necessária revisão no planejamento de centros comerciais e de serviços como shoppings, malls e strip centers de diferentes tamanhos.
E muito mais.
Os dados do Censo são ainda preliminares, mas confirmam, dimensionam e qualificam movimentos que já eram perceptíveis no comportamento de mercado e devem agora serem usados para revisões e projeções estratégicas mais amplas pelo redesenho que precipitam da realidade presente e futura.
Vale refletir.
E esses novos e importantes elementos que impactam a transformação do varejo e do consumo também serão apresentados e debatidos para os mais diferentes canais, categorias, formatos e modelos de negócios no Latam Retail Show, tendo como tema central o ‘Back to the Future’, de 19 a 21 de setembro, em São Paulo. Marcos Gouvêa de Souza