Farra? Pra quem?

Convido os leitores a imaginar uma cena: O João convida vários amigos para um churrasco em sua casa.

Entre uma gelada e alguns petiscos os amigos do João veem seu cachorrinho, o Totó.

Daí o Geraldo começa a brincar com o cachorro. Logo vem o Arnaldo e o Gustavo e para dar mais ânimo a brincadeira começam a fazer o Totó correr. Ele, o Totó, não está acostumado a brincar com desconhecidos, quando muito com o dono.

De repente, há mais de 20 amigos do João correndo atrás do Totó. Primeiro ele corre muito. Tenta se esconder, mas não acha lugar; sua casinha está com a porta fechada. Totó corre e gasta sua grande energia. Um dos amigos, já meio bêbado, acaba sem querer ferindo o cachorrinho. Ele continua tentando se esquivar dos amigos brincalhões e divertidos do seu dono. Na correria mais uma vez se fere. Os amigos, cada vez mais animados aumentam sua euforia, deixam o Totó sem carta de alforria, ora, nem escravo ele era. Mas como deseja voltar a ter paz e liberdade.

Os amigos entre bebidas e risadas continuam a perseguir o Totó. Ele já acumula mais de 4 ferimentos; marcas de sangue já podem ser vistas. Em desespero chega a pular o muro e correr pela rua. Ali, passa por entre vários carros. Todo seu atributo de – melhor amigo do homem – parece sumir por alguns momentos que parecem intermináveis para o Totó. Ele chega a olhar para trás, talvez a perseguição tenha acabado, mas nada, ela aumentou, há mais pessoas correndo atrás dele; além dos amigos  do dono agora também há vizinhos empolgados. O Totó já com vários ferimentos encontra alívio debaixo dos pneus de um carro; o motorista não conseguiu frear nem desviar. 

Totó, enfim, descansa para sempre no meio de uma rua. Alguém depois o juntará e o enterrará. Até que haja outro “Totó para os amigos do João se divertirem”; claro, menos o perseguido e exausto animal.

Qual a diferença entre a cena acima descrita e a farra do boi? 

Há quem diga que é tradição. Já há quem argumente: “Mas na Espanha e em outros países não há touradas?”

Pessoas em constante evolução intelectual quando se comparam a outras pessoas e povos normalmente procuram se “nivelar” por bons exemplos; jamais se “nivelar” por baixo para encontrar justificativa ao que não se justifica.

Tradição, brincadeira, farra? Para quem? Por que ninguém se oferece como voluntário no lugar do boi?

Aí sim, talvez houvesse uma farra de verdade ou quem sabe o mais difícil: A consciência de que o boi da “farra” sofre sim abusos. Na menor das hipóteses, até que se prove o contrário, a exaustão do animal.

Faz lembrar os espetáculos dos antigos gladiadores; hoje com bois, touros, cães, galos ou qualquer outro animal indefeso.
E tudo isso só para que alguns se divirtam com sua costumeira “farra”. Farra pra quem?